Tocantins contra o Covid-19: quem está na frente?

Tocantins contra o Covid-19: quem está na frente?

Isabella Santa Rosa

Com o primeiro caso confirmado no dia 18 de março de 2020 e a primeira morte registrada no dia 15 de abril de 2020, o Tocantins foi o último estado do Brasil a apresentar registro de morte por Covid-19.

A pandemia do novo Coronavírus anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março do ano passado, resiste em deixar as terras brasileiras e tem cada vez mais mostrado que tudo que está ruim pode ficar pior.

 Para entender o panorama da situação do estado do Tocantins no enfrentamento da pandemia é preciso voltar a 2020, desenhar a trajetória e escolhas do governo do estado e todas as suas consequências.

O início

Após o anúncio da OMS da pandemia do vírus nCoV-2019 – variante mais letal da família coronavírus que causa infecções respiratórias – o mundo todo entrou em estado de alerta, principalmente com o colapso rápido de alguns países frente ao Covid. O primeiro caso da doença no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo, mas rapidamente os casos avançaram para transmissão comunitária e os estados começaram a trabalhar na contenção do vírus, cada um à sua maneira.

Assim que o Tocantins teve seu primeiro caso suspeito indicado na lista do Ministério da Saúde, o governo decidiu suspender as aulas da rede pública de ensino para tentar diminuir a circulação de pessoas. A segunda medida foi a alteração de jornada de trabalho dos servidores e a suspensão de eventos. Após a primeira confirmação, o estado declarou situação de emergência e a capital Palmas suspendeu o funcionamento de todo o serviço não essencial no dia 18 de março de 2020.

No dia 27 de março, o governo emitiu nota informando que cabia aos municípios as decisões sobre eventuais suspensões de atividades e nos dias que se seguiram, várias cidades liberaram o comércio, como Araguaína e Gurupi. Após 30 dias da primeira medida de contenção, o Governo do Tocantins recomendou a reabertura do comércio não essencial. A recomendação durou até dia 5 de maio, e nesse meio tempo o Tocantins registrou a primeira morte, no dia 15 de abril – dia seguinte à recomendação do governo. Nesse período se tornou obrigatório o uso de máscaras no estado.

Ultrapassando a marca de 1,1 mil casos e 24 mortes por Covid-19, o governo estadual adotou ‘lockdown’ por sete dias em 35 municípios no dia 15 de maio, que não foi prorrogado e chegou ao fim com a indicação do governo para manter serviços não essenciais fechados, mas a adoção ficou a cargo de cada prefeitura.

De lá para cá, o Tocantins tem sido levado pela correnteza, tomando decisões pontuais para conter o avanço do novo coronavírus, mas sem posição permanente diante das posições políticas e pressões sociais contra as medidas de isolamento social.

O que ficou no meio

O estado tem uma grande concentração de população indigena, com 9 etnias com aldeias distribuídas em várias regiões, que com a vulnerabilidade socioeconômica e de acesso à saúde acabaram sofrendo muitas perdas durante esse um ano de pandemia. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram 1.182 casos confirmados e 10 óbitos de indígenas até o momento no Tocantins.

Outros pontos que devem ser destacados são a taxa de desemprego, como as diferenças entre as classes sociais afetaram nos números da pandemia e o sistema público de saúde.

A assistente social e vereadora suplente em Palmas, Eutália Barbosa, é servidora pública da saúde na capital, atuando na saúde da família no Centro de Saúde da Comunidade, e avalia que a situação é muito mais grave do que só o Covid-19, “As pessoas têm noção do momento que estão vivendo, elas tem medo de pegar o coronavírus, elas tem medo de morrer, mas também diante de uma situação tão grave quanto essa – de não ter o que comer em casa – a sensação que se tem é que em alguns momentos as pessoas nem lembram da pandemia, é a menor preocupação”, contou Eutália.

Segundo o IBGE, mais de 50% da população com idade para trabalhar não está ocupada no Tocantins e a taxa média de desemprego foi de 11,6% em 2020.

Estudos também revelam que no Brasil e no mundo morrem mais pessoas negras e pobres de coronavírus, principalmente pela falta de acesso ao serviço de saúde.

“A pandemia afetou o sistema público de saúde, ela exigiu muito do sistema público de saúde. A gente pensa assim ‘Ah, numa pandemia as pessoas estão passando mal, precisam de atendimento’ você já pensa logo na unidade hospitalar, que precisa de leito, precisa de UTI, só que ela afetou o sistema público de saúde como um todo, porque as unidades básicas de saúde que são responsáveis, por exemplo, para atender as demandas mais primárias da população, não menos importantes, como o pré-natal, acompanhamento dos casos de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, aqueles cuidados que você pode fazer no âmbito da atenção primária, consultas de rotina, acompanhamento de rotina da população, trabalhar com as questões de prevenção e de promoção da saúde,  tudo isso foi muito afetado, porque as pessoas continuam tendo essa demanda, só que as unidades básicas de saúde também tiveram que se estruturar para atender a covid” explicou a assistente social, “as pessoas não deixaram de ter os problemas de saúde que tem, o sistema público ele já era um sistema muito… não colapsado, mas muito demandado, e aí você imagine com a covid”.

O estado chegou a registrar quase 100% de ocupação de UTI-Covid tanto na rede pública quanto na privada no dia 5 de março.

A luta de hoje

Segundo o consórcio de veículos de imprensa, formado por G1, O Globo, Extra, O Estadão de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL, o Tocantins é o quinto estado com menos vacinados em relação a população total, com apenas 5,36%. 

O maior número de doses aplicadas é em pessoas com 80 anos ou mais. Até o dia 30 de março, foram 37.297 vacinas. Os dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) também mostram que até o dia 14 de março, 29% da população com mais de 80 anos já havia recebido as duas doses da vacina, e que entre as pessoas desse grupo foi constatado a redução de 100% da mortalidade.

Com a média móvel de 508 casos nos últimos sete dias, mais de 140 mil casos confirmados e mais de 2 mil óbitos, o Covid-19 no Tocantins continua a bater as próprias metas diárias.

Apesar da adoção de medidas de isolamento logo no começo da pandemia ainda fazerem a diferença no número de casos e de mortes pelo novo coronavírus em comparação com outros estados, com a demora na vacinação e a falta de pulso firme para manter o distanciamento social como máxima no estado, para os tocantinenses que estão perdendo seus familiares e amigos todos os dias, o Covid-19 está correndo muito mais rápido do que nossas pernas aguentam.

Redação