Com base nos dados: Uma análise profunda da Covid 19 no Tocantins

Com base nos dados: Uma análise profunda da Covid 19 no Tocantins

Por Edson Cardoso Teixeira

O primeiro caso registrado de COVID 19 no Tocantins ocorreu em 18 de março. Nesse ínterim quase todo o Estado já adotava meditas de distanciamento social, as aulas haviam sido suspensas e o comércio estava fechado em várias localidades. Apesar do baixo índice de isolamento social (segundo o instituto inloco, os tocantinenses nunca respeitaram rigidamente o isolamento social, conforme o gráfico1 abaixo), as medidas restritivas adotas pelo governo estadual e prefeituras estavam funcionando bem.

Todo o Estado do Tocantins registrava 28 casos confirmados (17 em Palmas e 5 em Araguaína) e um óbito, registrava-se em média 1 caso por dia, mas a partir de 14 de abril (um mês após o início da quarentena), o governo de Mauro Carlesse flexibiliza as normas e o comércio reabre as portas em todo o Estado (à exceção de Palmas, onde a prefeita Cintia Ribeiro foi mais prudente).

O Tocantins ainda não estava preparado para a reabertura. O governo não havia aproveitado esse sucesso inicial do Estado na contenção da pandemia para o prepara-lo adequadamente para a retomada da economia. Não tinham sido abertos novos leitos de UTI – Unidade de Terapia Intensiva, as fronteiras estaduais estavam totalmente livres e não haviam barreiras sanitárias em nenhum local do Estado.

Os resultados dessa flexibilização desorganizada começaram a aparecer duas semanas depois: a média de novos casos diários que era de 1 caso por dia, passou a ser de 6 no dia 23 de abril, 7 no dia 24 e foi subindo exponencialmente até superar os 70 novos casos diários nos dias 6 e 7 de maio, conforme mostra o gráfico 2 a seguir.

Em consequência desse salto no número de confirmações diária, o acumulado de casos confirmados vem aumentando drasticamente (conforme o gráfico 3), podendo chegar a 1800 casos até o próximo dia 14 de maio (se a curva mantiver o ritmo atual).

O número de hospitalizações por Covid 19 no Tocantins também vem subindo (como demonstra o gráfico 4), saindo de 0 no dia 20 de abril e chegando a 34 no dia 7 de maio, podendo vir a comprometer ainda mais a rede pública de saúde (que não recebe os devidos investimentos há anos), pois o tempo de internação dos pacientes de Covid 19 costuma ser longo (em média mais de 11 dias).

A taxa de mortalidade — nesta matéria entendida como a relação entre o número de óbitos e o somatório do número de casos “recuperados” (gráfico 5) e o número de óbitos (gráfico 6) — vem variando numa mediana de 10 a 11%; ou seja, se esses números continuarem a ter essa evolução, o Tocantins chegará a mais de 40 mortes por SARS CoV II nas próximas duas semanas.

No dia 5 de maio, o governo estadual voltou atrás na flexibilização, mas é preciso também que as prefeituras (especialmente a de Araguaína) tomem medidas mais firmes para conter o avanço da pandemia, senão a rede de saúde vai entrar em colapso. Eram 15 pessoas internadas em UTI no dia 8 de maio, o que então representa uma taxa 37% de ocupação dos leitos destinados a Covid 19 no Estado, mas essa taxa tende a aumentar nos próximos dias (mesmo com a promessa de habilitação de novos leitos pela secretaria estadual de saúde).

Há várias experiências bem-sucedidas no controle a pandemia ao redor do mundo, não existe uma receita mágica e pronta para todos os locais, cada realidade é única. A Nova Zelândia esmagou a curva fechando as fronteiras (ela é um conjunto de ilhas que não possui fronteiras terrestres com outros países) e adotando uma rígida quarentena por 50 dias. A Argentina vem conseguindo manter a curva achatada através de uma política rigorosa de isolamento social. Taiwan controlou a pandemia, sem adotar nenhuma medida restritiva, apenas através de um rígido controle sanitário de quem chegava de viagem. A Coréia do Sul e a Islândia conseguiram o mesmo resultado adotando a estratégia de testagem em massa. O importante é evitar que a Covid 19 leve o sistema de saúde ao colapso. Por enquanto, o único sistema de saúde que resistiu ao pico de Covid 19 sem que as autoridades adotassem medidas para controlar a propagação do SARS CoV II, foi o da Suécia (um dos melhores do mundo a décadas).

Será que o nosso sistema de saúde é tão bom quanto o Sueco para suportar um número muito alto de pacientes que possa vim a ser hospitalizados pela Covid 19? Ou será que temos o mesmo colchão social da Nova Zelândia para realizar um lockdown de 50 dias? Será que nosso governo tem recursos para comprar tantos testes como o da Islândia? Talvez o modelo de Taiwan de rígido controle sanitário (se bem executado) seja o que melhor se adequa à realidade do Tocantins.

*os dados utilizados como base dessa matéria estão disponíveis nos boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde do Tocantins.

Redação