Movimentos respondem: Agro é fogo e queimadas são crimes do agronegócio!
Mais de 90 movimentos e organizações da sociedade civil divulgaram nesta segunda-feira, 28, nota pública conjunta denunciando a destruição dos biomas brasileiros pelo fogo criminoso que vem atingindo a Amazônia, o cerrado e o Pantanal. O documento marca oposição às afirmações do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL)na abertura da Assembleia Geral da ONU, no último dia 22 de setembro.
Na ONU, Bolsonaro mentiu sem qualquer constrangimento ao afirmar que o Brasil tem a “melhor legislação” ambiental em todo o mundo e que o país respeita as regras de preservação da natureza. Ele também declarou que “índios” e “caboclos” são os responsáveis pelas queimadas. As acusações do discurso negam a realidade e os dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Enquanto isso, no Brasil, cerca de 16,9 mil focos de incêndio foram detectados no Pantanal entre janeiro e setembro deste ano, maior número já registrado pelo INPE, cujo monitoramento acontece desde 1998.
O enfrentamento às queimadas criminosas é uma luta comum a várias regiões do país, embora proporcionalmente o Pantanal seja o bioma mais afetado, ele não é o bioma brasileiro com a maior porcentagem de queimadas.
Dados do INPE apontam que, este ano, mais de 43,6 mil focos de queimadas aconteceram no Cerrado, tornando o berço das águas o segundo bioma brasileiro com maior registro de queimadas, 28,4% do número total. A situação do Cerrado só não é mais grave que a Amazônia, onde aconteceram no mesmo período mais de 73,9 mil queimadas, correspondendo a 48,1% do total. Na sequência, vem Pantanal, 11%; Mata Atlântica, 8,7%; Caatinga, 2,7%; e Pampa, 1%.
Além das mentiras e da negação de fatos, Bolsonaro ainda atribuiu a responsabilidade do fogo aos povos tradicionais e indígenas. Uma “grande mentira” contada para acobertar os verdadeiros culpados pelos incêndios criminosos: agentes do agronegócio. Os verdadeiros responsáveis pelo fogo nos biomas têm nome e CNPJ; a Polícia Federal abriu investigação para indiciar quatro grandes fazendeiros do Mato Grosso do Sul, que teriam iniciado o incêndio no Pantanal. Há indicações de que o crime foi combinado e que ações semelhantes também foram feitas na Amazônia e no Cerrado.
Junto à indignação da sociedade brasileira diante da hecatombe ambiental e das mentiras de Jair Bolsonaro sobre a devastação dos biomas, os movimentos, organizações e pastorais sociais do campo; redes, articulações e campanhas; e redes e grupos de pesquisa brasileiros que assinam essa Carta onde reafirmam o compromisso com a memória, a verdade e a justiça.
“Não nos calamos diante de velhos estratagemas autoritários reeditados, que incitam o ódio e o racismo e sustentam farsas e crimes contra os direitos dos povos”, diz trecho do documento que apresenta cinco pontos que unificam as denúncias e resgatam a memória e a sabedoria ancestral dos povos e comunidades tradicionais.