Feche os olhos e abra os ouvidos para o poder da (des)informação

Feche os olhos e abra os ouvidos para o poder da (des)informação

Isabella Santa Rosa*

Com mais de 290 mil mortes pela Covid-19, o Brasil tem tido obstáculos imensos no combate ao vírus, e a maior delas tem sido as fake news. Com figuras de destaque na sociedade endossando remédios sem eficácia, curas milagrosas, a necessidade do fim do isolamento social para sair da crise econômica, além de mentiras sobre a vacinação, o país passa por momento crítico, com a iminência do colapso da saúde.

Durante a sessão da Assembleia Legislativa do Tocantins na última terça-feira, 16, o deputado estadual Zé Roberto Lula (PT/TO), em sua fala na tribuna, atribuiu parte da culpa da situação atual do país no combate ao novo coronavírus as fake news espalhadas em grupos de Whatsapp e Facebook por uma parcela das forças de segurança, de alguns líderes religiosos e grupos de empresariados. A fala gerou controvérsia, e o O Correio Popular decidiu fazer um levantamento.

Líderes religiosos x Covid-19

Desde o início da Pandemia, vários países têm sofrido com o grande número de informações falsas publicadas nas redes sociais, que chegam de maneira massiva para a população e colocam em dúvida a existência da doença, sua gravidade, as medidas de isolamento social e as vacinas.

Líderes religiosos de todo o mundo têm agido de formas diferentes perante o problema, e a maior divergência tem ocorrido nas questões de isolamento e vacinação.

Durante as primeiras medidas que levaram ao fechamento das igrejas, o pastor Silas Malafaia, em vídeos nas redes sociais, desafiou as recomendações de suspensão das missas e cultos do governo de São Paulo e Rio de Janeiro, em março de 2020. As críticas do pastor passaram a se repetir quando o assunto era quarentena, chegando a chamar a medida de “quarentena de araque”.

No mês passado, enquanto o Paraná vivia um dos momentos mais críticos da pandemia, sem vagas nos hospitais do estado, Malafaia reuniu milhares de fiéis durante culto em Curitiba.

O pastor Edir Macedo também esteve envolvido em várias polêmicas com a minimização da Pandemia, mas apesar de chegar a dizer “não se preocupe com o coronavírus” durante live no Facebook em março de 2020, Edir Macedo foi fotografado em Miami sendo vacinado contra Covid-19.

O Ministério Público Federal de São Paulo entrou com ação contra outro conhecido pastor, Valdemiro Santiago, por fake news durante a pandemia, que em vídeo anunciou sementes de feijão que, segundo ele, poderiam curar o coronavírus.

Essas e outras falas de líderes religiosos, como o padre que desejou a morte aos fiéis que não iam à igreja, pastor que afirmou que a “vacina chinesa” causa câncer, altera o DNA e possuiria o vírus do HIV, tem dificultado o combate eficaz da Covid-19 entre fiéis e gerado problemas também na vacinação dos povos indígenas.

Lucro acima de tudo?

Outro grupo da sociedade que tem aparecido muito nas notícias lutando contra o isolamento social são alguns grupos de empresários e donos de médias e grandes empresas.

Apoiados pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, desde o início da Pandemia, alguns empresários têm se manifestado com carreatas em todo o país contra restrições impostas pelos governadores e prefeitos no combate ao novo coronavírus.

Entre as várias manifestações tem chamado atenção o pedido para utilização do “Kit Covid”, composto por remédios sem comprovação de eficácia contra a Covid-19, incluindo a cloro-quina.

Em pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira, 19, 50% dos empresários são contra o isolamento social, com a justificativa de estimular a economia, manter empregos e as portas abertas. O levantamento também mostra que eles estão conscientes que o fim das restrições podem aumentar a circulação do vírus.

*Profissional em formação orientada pelo jornalista Fábio Coêlho DRT 797-TO

Redação