Menina indígena de 1 ano morre após esperar por quase duas horas por transporte até hospital
Utai Kurehuru, morava na aldeia Macauba, localizada na parte tocantinense da Ilha do Bananal
Por Karina Custódio
Utai Kureheru Iny, uma bebê de um ano que sofria de pneumonia, foi encaminhada do posto de saúde na aldeia Macauba (TO), na última segunda-feira, 18 de julho, até o hospital mais próximo em Santa Teresinha no Mato Grosso do Sul, mas a menina teve de esperar quase duas horas pelo transporte, que é de responsabilidade do Distrito Indígena do Araguaia (DSEI – Araguaia).
Utai Kureheru chegou ao hospital em estado grave e foi encaminhada ao Hospital de Confresa (MT), mas ao chegar ao hospital a menina morreu vítima de uma ataque cardíaco causado por uma pneumonia grave.
Quem fez a denuncia ao Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS) foi Josué Wakari, tio da menina e presidente da Associação Indígena da aldeia Macauba, ele dá detalhes sobre a demora do transporte: “Atrasou lá no posto da balsa, o carro demorou, ligamos no plantonista não atendeu no telefone, a menina esperou lá no sol quente… Nós precisamos só da demissão do motorista, Luiz Antonio, eu quero só isso”.
Quem realizou o transporte de Utai Kureheru e sua mãe Dimaura Karajá até o hospital foi o cacique da aldeia Macauba, Renato Karajá. Conforme Josué Karajá a família chegou até mesmo ir até a casa do motorista Luiz Antonio Strutz, onde viu o carro do Distrito de saúde parado, mas não encontrou o motorista. Josué conta que o DSEI informou a família que demitirá o motorista que devia estar em seu posto de trabalho.
Essa não é a primeira vez que o Povo Karajá (autodenominado Iny) enfrenta problemas com o serviço de saúde pública, em maio o INDTINS denunciou que todos os motoristas do DSEI haviam sido demitidos e que três aldeias sofriam com a falta de transporte. Na época Aguinaldo Teiakurei Karajá sofreu com fortes dores por 15 dias e não recebeu atendimento médico pela falta de transporte e de posto de saúde em sua aldeia, São João. A maior parte das aldeias na parte tocantinense da Ilha do Bananal não contam com postos de saúde e, conforme espresso pelo cacique da aldeia São João, Diego Marauwá, os técnicos de saúde não fazem visitas as aldeias distantes dos centros urbanos.
Antes disso, no final de 2021, o ativista indígena Juanahu Karajá que integrava o Conselho de saúde indígena e trabalhava como agente de saúde Indígena foi demitido após questionar sobre o uso indevido do combustível por parte do DSEI. Além dele, outros líderes indígenas sofreram ameaças por membros da Fundação Nacional do Indio, e membros indígenas da saúde foram demitidos sem razão, como é o caso Rabuwenona Karajá dispensado no início do ano após sua esposa e líder indígena cobrar melhorias à saúde prestada ao Povo Iny.
Posição do INDTINS
Repudiamos a ingerencia na saúde indígena prestada pelo Distrito de Saúde Indígena do Araguaia, que é de responsabilidade da Secretária Especial de Saúde Indígena (SESAI), O acesso à vida e a saúde estão assegurados na Constituição Federal e a falta de estrutura e eficiência no atendimento a saúde prestado ao Povo Iny tiraram a vida de um bebê de um ano.
Utai Kureheru Iny morreu vítima de um ataque cardiaco após esperar por quase duas horas por um transporte que poderia ter sido feito em menos de 10 minutos. São responsáveis por essa morte e por toda a dor que ela causa a família a ao Povo Karajá não apenas o motorista Luiz Antonio Strutz, que negligenciou seu trabalho, mas todo o DSEI Araguaia que vem fechando os olhos para seu dever com os Povos Indígenas da Ilha do Bananal.
Mais do que negligenciar, a coordenação indígena do DSEI Araguaia persegue lideranças indígenas que cobram melhoria ameaçando demitir e de fato demitindo parentes e pessoas próximas às lideranças que trabalham na saúde indígena. Repudiamos a perseguição, a ingerência e exigimos que o trabalho do DSEI seja investigado pelo Ministério Público Federal.
A morte de Utai Kureheru Iny não pode ser esquecida nem condenada ao silêncio, ela faz parte de um projeto de genocídio da população indígena iniciado com a colonização e ainda em curso. Temos direito à autonomia, dignidade e vida e exigimos que o Estado brasileiro aja para garantir os nossos direitos.