R$ 150 de auxílio não mata a fome, nem retoma economia, diz economista

R$ 150 de auxílio não mata a fome, nem retoma economia, diz economista

Com o fim do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 – R$ 1.200 para mães chefes de família, como tinha determinado o Congresso Nacional em março de 2020 -, a extrema pobreza atingiu quase 27 milhões de pessoas, o que equivale a 12,8% da população brasileira, já em janeiro deste ano, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base nos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads) Contínua e Covid-19.

Apesar do aumento considerável de brasileiros sujeitos à fome, a insensibilidade do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) não tem limites. Em vez de combater a pandemia e ajudar a população a ficar em casa, parou de pagar o auxílio em dezembro, demorou  quase quatro meses para viabilizar um novo benefício, e ainda assim com valores irrisórios para o sustento de uma única pessoa, e muito menos para o sustento de uma família em situação de vulnerabilidade.

De R$ 600 caiu para R$ 150

O que se sabe até agora sobre o pagamento do novo auxílio tem sido divulgado pela imprensa, que tem acesso à equipe econômica do governo. A previsão é que sejam feitos quatro pagamentos de R$ 150 para famílias com uma só pessoa, cerca de 20 milhões de beneficiados. Outras quatro parcelas de R$ 250 deverão ser pagas a 16,7 milhões de beneficiários que moram com outras pessoas no domicílio, e R$ 375 para 9,7 milhões de mães que sustentam sozinhas seus filhos. O novo auxílio deixará de fora mais de 28 milhões de desempregados e informais que receberam o benefício no ano passado o benefício.

Não dá para comprar nem uma cesta básica

Os R$ 150 só compram 23% da cesta básica em São Paulo, 29%, em Belém e 31%, em Salvador, de acordo com levantamento mensal feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com R$ 250 é possível comprar 39%, 49% e 52% da cesta nas capitais paulista, paraense e baiana, respectivamente. Já um benefício de R$ 375 às mães terá o poder de comprar 59% da cesta em São Paulo, 73% em Belém e 78% em Salvador. O cálculo foi feito pelo jornalista Leonardo Sakamoto, em seu blog no UOL.

Sem segurança alimentar

O economista e especialista em políticas públicas Francisco Menezes, que atuou no Ministério de Combate à Fome, no governo do PT, avalia que esses valores são absolutamente insuficientes para dar segurança alimentar a quem precisa.

“Quando foram reduzidos para a metade os valores do auxílio, de setembro a dezembro, já naquele momento houve um aumento significativo da fome no país. Os R$ 300 já não davam. O Datafolha mostrou que do total de pessoas que recebiam o auxílio pela metade, 36% estavam sem nenhuma renda e dependiam completamente do benefício para sobreviver”, diz Francisco, se referindo ao período em que Bolsonaro ampliou o prazo de pagamento, mas reduziu o valor em 50%.

A falta do pagamento de um novo auxílio desde janeiro deste ano foi uma enorme irresponsabilidade do governo, o que impactou tanto em relação à situação de extrema pobreza da população como no combate à crise sanitária, critica o economista Francisco Menezes.

“Sem dinheiro, sem comida, sem nada que garanta a sobrevivência,  as pessoas não ficam em isolamento”, diz.

Com auxílio menor, retomada da economia vai demorar mais

Existe do ponto de vista econômico uma irracionalidade com o equilíbrio fiscal que o governo tanto alardeia de que praticamente será o fim do mundo se o país aumentar a sua dívida pública,  avalia Menezes. Segundo ele, o equilíbrio fiscal é impactado positiva ou negativamente não só pelas despesas, mas pelas receitas. Isto significa que aumentar os gastos traz dividendos econômicos.

“A queda no PIB de 4,1% no ano passado quando até o Banco  Mundial previa mais de 9% demonstra o quanto o auxílio emergencial, a transferência de renda, possibilitou a movimentação da economia”, afirma.

Fonte: CUT

Foto: Tomaz Silva

Redação