Três anos após enfrentar tropa no DF, Anna Terra Yawalapiti perde tio Aritana por Covid-19 e tem sintomas

Três anos após enfrentar tropa no DF, Anna Terra Yawalapiti perde tio Aritana por Covid-19 e tem sintomas

Foto: Matheus Alves/Levante Popular da Juventude

Texto: Sarah Fernandes | De Olho nos Ruralistas

Ainda em luto pela morte do cacique Aritana Yawalapiti na última quarta-feira, 5, principal líder do Alto Xingu, o Território Indígena do Xingu (TIX) amanheceu hoje com mais um motivo para preocupação. Figura emblemática na luta das mulheres xinguanas, a líder Anna Terra Yawalapiti apresenta desde a manhã desta sexta-feira um agravamento no quadro respiratório, um dos principais indícios de Covid-19.

Em 2017, ela se tornou um dos principais símbolos da mobilização indígena ao ser fotografada, de braços abertos, em frente de uma tropa formada por seguranças do Congresso (e que se intitula “polícia legislativa”), durante um dos protestos contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que previa transferir ao Legislativo a responsabilidade de demarcar terras indígenas.

Compartilhada ao redor do mundo, a imagem do fotógrafo Matheus Alves, feita durante o 14º Acampamento Terra Livre, em Brasília, foi vencedora do prêmio “Combater os Retrocessos: Existir e Resistir à Retirada de Direitos”, promovido pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos, e contribuiu para frear a tramitação do projeto, impondo à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) sua principal derrota política desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

A fotografia de Anna repetiu outra imagem icônica de seu pai, Pirakumã Yawalapiti, irmão de Aritana que, em 2013, também se colocou à frente de um cordão policial durante manifestação das Jornadas de Junho, em frente do Congresso. Falecido em 2015, vítima de um infarto, Pirakumã foi um dos principais líderes do Xingu e, com admirável capacidade diplomática, conseguiu articular pacificamente as 16 etnias reunidas no Parque do Xingu, do qual foi diretor entre 1999 e 2002.

NOVO CORONAVÍRUS SE ALASTRA PELO XINGU

Anna Terra está em observação no Posto Leonardo, base fundada em 1946 pelos irmãos Villas-Bôas, e pode ser transferida ainda hoje para um hospital em Cuiabá. Ela esteve com o tio Aritana pouco antes dele falecer, vítima de complicações da Covid-19, na última quarta-feira. Aos 71 anos, ele era uma figura histórica no Xingu e um dos principais articuladores da luta indígena no país.

No dia de sua morte, De Olho nos Ruralistas relembrou entrevista do “cacique dos caciques” ao observatório, no ano passado, na qual reiterou sua rejeição à entrada do agronegócio em territórios indígenas e falou sobre a esperança que depositava nas novas gerações: “Em último perfil, Aritana Yawalapiti disse que estrada no Xingu seria “chegada do que não presta””

Segundo levantamento da Articulação Nacional dos Povos Indígenas (Apib), até esta sexta-feira morreram 633 indígenas em função do novo coronavírus, nove deles no Xingu. Além de Aritana, o povo Yawalapiti teve outras três mortes por Covid-19, incluindo um de seus irmãos e uma sobrinha. O total de casos da doença entre indígenas já passou de 23 mil, em 148 etnias.

Para conter o avanço da pandemia na região, o Movimento de Mulheres da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix-Mulher) lançou uma campanha de arrecadação de recursos para adquirir materiais básicos de higiene, ferramentas e alimentos para as famílias que estão isoladas em suas aldeias.

A campanha é pilotada por Watatakalu Yawalapiti, coordenadora da Atix-Mulher e irmã de Anna Terra, e pode ser acessada no seguinte link: “Apoie os povos do Território Indígena do Xingu contra a Covid-19“.

Redação