Arraias: 280 anos de história, cultura e turismo
Foto: Adilvan Nogueira
Há 280 anos, nascia oficialmente Arraias. A data de 1° de agosto de 1740 foi marcada oficialmente pela transferência, assinada pelo governador da Capitania de São Paulo, Dom Luís de Mascarenhas, do povoado de Chapada dos Negros para uma área distante a poucos quilômetros. O povoamento da região havia iniciado quatro anos antes para exploração de ouro.
O tempo passou, mas a importância histórica do município a cerca de 420 km de Palmas permanece viva no orgulho dos arraianos, nas construções históricas, nas tradições culturais, nos muros de pedra do antigo povoado, que testemunharam um dos garimpos mais ricos da região e a consequente presença de enorme número de negros escravizados.
História
Tudo começou com um arraial que já nasceu com seu nome definitivo, em referência à espécie que traz um ferrão no rabo, muito comum no ribeirão de mesmo nome. Localizada no sudeste do Tocantins, na Região Turística das Serras Gerais, também é conhecida como a Cidade das Colinas, por estar em um vale e cercada por várias destas formações. Sua zona urbana também é a mais alta do Estado, com cerca de 722 metros de altitude, o que proporciona noites bem amenas nos meses de junho e julho.
Seu centro histórico ainda preserva traços da arquitetura em estilo colonial português. Nos casarões mais antigos, ainda é possível encontrar as iniciais dos patriarcas das famílias que as construíram e o ano de conclusão da obra. Um deles, localizado na Praça Doutor João d’Abreu, guarda objetos de época e registros sobre a formação do município: o Museu Histórico e Cultural de Arraias é administrado por meio de acordo de cooperação técnica entre o Governo do Tocantins, por meio da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc), a Prefeitura Municipal e a Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Turismo
Por sinal, é justamente no Câmpus de Arraias que a UFT mantém seu curso Tecnólogo de Turismo Patrimonial e Socioambiental, confirmando a vocação do município para o desenvolvimento desta área.
Riquezas naturais e culturais não faltam, como a Gruta da Fazenda Furnas e as trilhas que levam às ruínas da Chapada dos Negros e ao Morro da Cruz, um mirante com vista para todo o vale.
O Turismo de Base Comunitária (TBC) também tem grande potencial de desenvolvimento nas comunidades remanescentes de quilombo, como Mimoso de Kalunga e Lagoa da Pedra. Nesta última, ainda se realiza a Roda de São Gonçalo, uma tradição trazida pelos portugueses, em pagamento de promessas feitas ao santo. No ponto alto da festa, mulheres desfilam em pares, vestidas de branco, carregando arcos de madeira enfeitados com flores de papel e iluminados com pavios feitos de cera de abelha. Enquanto isso, os homens tocam viola e entoam versos em louvor a São Gonçalo, cuja imagem fica em um altar erguido próximo a um cruzeiro todo iluminado.
Arraias é um dos oito municípios da Região Turística das Serras Gerais, que reúne cidades históricas famosas por suas festas folclóricas e religiosas herdadas do colonialismo e da era do ciclo do ouro. O turismo de natureza também é destaque, devido à grande quantidade de rios, cânions, cachoeiras, grutas e cavernas. Para quem se interessar em conhecer Arraias, a dica é fazer um circuito maior, visitando outras localidades da região.
“A região sudeste do Tocantins é uma referência em cultura e belezas naturais, e Arraias se destaca por sua rica história. O município merece todas as honras em seus 280 anos”, afirma o presidente da Adetuc e secretário de Estado da Indústria, Comércio e Serviços, Tom Lyra.
Tradição
Apesar dos atrativos naturais, os saberes e fazeres da população local são o grande destaque. Quem nunca ouviu falar na famosa Paçoca de Arraias? Alimento dos sertanejos e viajantes, a paçoca tem uma longa história, iniciada com a ocupação portuguesa e que chegou aos dias de hoje como alimento tradicional do Tocantins, apesar de estar presente em outros estados.
A carne seca, cortada em cubos e frita em óleo quente, é socada no pilão (de preferência sem verniz), com alho picado e farinha de mandioca. As batidas ritmadas fazem com que a carne se desmanche e seu sabor seja assimilado pela farinha. A produção arraiana teria conquistado fama antes mesmo do desmembramento dos estados de Goiás e Tocantins, com a apreciação do produto em feiras agropecuárias e outros eventos.
Também chama a atenção a produção artesanal, em especial as peças em argila branca, que é transformada em potes, panelas e objetos decorativos de cerâmica.
Já o seu carnaval preserva uma tradição quase extinta em outras regiões do país, o Entrudo, onde os brincantes jogam água uns nos outros enquanto percorrem as ruas da cidade animados por marchinhas carnavalescas tocadas por uma animada banda.
Comemoração
Com as restrições impostas pela prevenção ao novo Coronavírus, causador da Covid-19, o município terá apenas algumas atividades para marcar a data. Conforme a diretora Municipal de Cultura e Turismo, Aline Alves Ribeiro, nesta sexta-feira, 31, foi lançado o portfólio virtual Arraias: 280 Anos. Para este sábado, 1º de agosto, aconteceu a palestra on-line sobre o Sisteminha, projeto de produção integrada de alimentos, com seu criador, o pesquisador da Embrapa Luiz Guilherme, às 10 horas. O mediador foi o secretário municipal de Meio Ambiente, Mauro Barreto. A partir das 16 horas, haverá uma live de contação de histórias com Nicinha Castelo. A transmissão será feita pelo Youtube, no link http://youtube.com/geislerbarretofotografo.
Por Seleucia Fontes